sábado, 16 de abril de 2011

Você Quer Saber O Que Destruiu A Minha Vida ?

" Navegue em mares tortuosos de fúria na direção do ciclone e adentre a cratera do lúgubre oceano, observe, enfim, as paredes ocas que a água forma em torno de milhões de quilômetros de exílio. Não haverá ninguém lá, em nenhum desses quilômetros e o único som que se ouvirá será o eco desesperado da agonia crescente que emana do local, o soturno Oceano Interior, lar dos abismos da solidão extrema.

 Surge longínqua a miserável criatura das profundezas. Os olhos vazados, o coração exposto em um buraco aberto no corpo estilhaçado e ensanguentado. A pretitude esterna pareceu mais negra ao tocar de seus pés no solo infértil. Gutural e sombria, uma voz se fez ouvir daquela garganta cortada, e dizia infernal:
  
-Você quer saber o que destruiu a minha vida? 

 Ela trouxe para fora o coração ensanguentado, arrancando-o friamente com as próprias garras mal aparadas que usava para flagelar-se naquela imensidão obscura de tristeza e vazio. Passou as unhas em seu cerne e ele se abriu rapidamente, tão frágil que era; de dentro do coração tirou um par de olhos negros, talvez aqueles faltantes em seu semblante macambúzio. Exibiu-os, os três, perante a ti. A tristeza proveniente dos seus dedos podia ser pressentida no ar rarefeito e tóxico.

-Tudo aquilo que olhos meus presenciaram mortificados (exibiu o primeiro olho), Todas as lágrimas que olhos meus derramaram nas noites tortuosas e dias fenecidos de martírio (exibiu o segundo) E o amor icomensurável que para a eternidade guardarei corroente no peito (exibiu o coração).

 Suas mãos tremulavam como quem deseja cair pelo chão e desfazer-se em cacos de vidro. Essa sensação expandia-se por todo o resto dela. Guardou os órgãos anátemos e caminhou para perto de ti, estacou exatamente a sua frente. Seu rosto havia se libertado do ódio e tomara uma expressão entristecida, como um vulcão que após a lava jorra lutuosas cinzas.

-Você quer saber o que restou de mim?

  Por agora, pernas suas tremiam, não aguentavam o peso da própria existência miserável condenada ao exílio em mares depressivos de obscuridade.

-Tristeza (uma lágrima de sangue escorreu das crateras em seu rosto e pulsos), Vazio (um ventar gélido de desesperança e carência atravessou seu cadáver) e Solidão.

 Dessa vez nada precisou acontecer, era apenas olhar ao redor daquela criatura deplorável para entender do que suas trágicas palavras tratavam... " 

2 comentários:

  1. Eu na verdade fico triste ao ler tanta dor...
    Espero que em tua alma não tenha tanta solidão...Um abraço.

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  2. Realmente, não há nada aqui para inspirar sentimentos alegres e vívidos.. =/

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