segunda-feira, 23 de maio de 2011

A Boneca do Sótão

A boneca do sótão, quanto tempo mais ela esperará ali, naquela solidão extrema? E por que [pelo que] ela espera? Uma vez que sua pele lívida tem a certeza de jamais ser tocada pela luz novamente. Ela chora, como uma pequena criança amedrontada ela chora. Chora pelo seu coração ferido, pelas marcas vergonhosas em seus pulsos, chora por todo o amor que lhe foi negado. Ela é linda. Oh, é o que dizem dela! Porém -parte o espelho em pedaços- de que adianta esta beleza, inteligência e tudo mais se as únicas coisas que lhe poderiam livrar das lágrimas são justamente as que lhes dão motivos para cair? Ela está sozinha, apesar do que sente, ela não tem noção do quanto está sozinha. Não mais ao seu redor, porém dentro dela, a Solidão não mais é um eco abafado que sobe pelas paredes do cerne soturno, porém o tudo em sua forma mais concreta e abranjente. Ela é Solidão. Ela fechou os olhos para não ver mais a realidade que a machucava, suas lágrimas feriam como cacos de vidro rasgando a pele e a dor horrenda alastrando-se em forma de ferida emm seu coração. Ela sofria tanto que às vezes não sabia sequer explicar o que estava sentindo, e tudo isso sem poder dizer uma palavra. Ele morreria sem saber de toda a angústia dela. E, talvez, se algo lhe fosse soprado aos ouvidos, ele não se importaria, ou pior, iria machuca-la mais ainda, propositalmente, como sempre fizera. Porque assim ele era, um Príncipe Enregelado. E ela não era uma princesa.

Solidão; era assim que ela se sente quando é deixada de lado, quando ele a trata como um vento que passou, elemento da paisagem, como se já fizesse parte do passado. E ela permanecerá lá, esquecida naquele lugar escuro, apenas esperando pela luz intensa que a libertará de toda a dor e lhe trará o seu amor. A luz que não virá.

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