sexta-feira, 22 de julho de 2011

Meu nome é Aurora, eu tenho 16 anos e um vício.


" Doutor Duarte, eu tenho um vício: pessoas.
Antes, eu diria sem recear que meu vício era a solidão, que eu tinha uma tendência natural a vê-la em tudo. Mas agora não, após reflexões compreendi que a solidão é apenas um mal [o pior dos males talvez..], mas não um vício. A solidão é um castigo dado e cumprido por você mesmo, uma bola de ferro presa aos seus pés, digo até que um estilo de vida, mas o meu verdadeiro vício são as pessoas e isso faz todo o sentido. Ora, para começar.. O que é a solidão? "Solidão é um sentimento no qual uma pessoa sente uma profunda sensação de vazio e isolamento. A solidão é mais do que o sentimento de querer uma companhia ou querer realizar alguma atividade com outra pessoa não por que simplesmente se isola mas por que os seus sentimentos precisam de algo novo que as transforme." [fonte: wikipedia], assim descreveu o wikipedia, e concordo muito, mas se eu fosse descrever [da minha habitual forma poética] usaria de outros versos: diria que a solidão é um monstro, um monstro grande e escuro que te deixa preso em seu abraço negro. E o que tem isso a ver com o vício? Absolutamete tudo. Se não fosse viciada em pessoas, se não precisasse tanto delas, não me sentiria sozinha. Eu sou viciada em pessoas, é um fato. Sou tão viciada nelas que preciso delas, sonho com elas, invejo-as, cobiço-as, procuro-as e é pela falta de alguém que eu choro na noite. Eu sonho com alguém, alguém que eu não sei mais se virá, alguém que sofro cada vez que procuro e.. me engano. Eu deveria desistir. Começou quando eu era criança e as outras meninas não gostavam de mim, me deixavam no grupo, mas me excluíam.. é por isso que até hoje eu me sinto sozinha mesmo num grupo de amigos animados, que eu me sinto sozinha até quando todo mundo diz que me quer bem.. eu me sinto diferente das pessoas, é como se, por mais que eu me esforce, elas sempre serão mais soltas, descoladas, legais e dignas de felicdade do que eu. Eu me sinto um bicho do mato por dentro perto delas, mesmo que esteja agindo igualmente a elas.. na minha mente corrompida, eu sou diferente, inferior e..indigna. Eu tenho a tendência natural de achar que não estou agradando, que estou sendo chata, que não gostam de mim, que estou sendo um saco ou que estou sendo ridícula. Estou sempre tentando visualizar como os de fora me vêem [não apenas fisicamente..] e perguntando coisas sobre mim aos outros.. dou uma importânca enorme a essas respostas. E também há a dependência fantasma: eu condiciono sonhos e alegrias meus em torno de pessoas especiais.. uma simples brecha já é suficiente para que eu teça sonhos enormes, planos, situações e até o 'futuro'.... eu literalmente preciso delas, e sem elas ou longe delas tudo desanda, desmorona, quebra e eu fico muito, muito triste, aos cacos. Eu não queria ser assim, eu não queria precisar das pessoas para respirar.. eu já li até livros de auto-ajuda sobre isso o.o mas simplesmente não adiantaram, nenhuma força que eu tenha cultivado, nenhum esforço que eu tenha tido, nenhuma ousadia.. tudo foi recompensado com lama e regressos fracassados à casa da solidão eterna. Hoje eu sei que eu tenho uma doença, ou melhor, uma coleção delas.. e agora esse vício, esse vício que faz com que eu tenha um estilo de vida forever alone e deprimido. Eu acho que preciso mesmo de ajuda, uma vez que eu mesma não posso fazer mais nada por mim. "
Eu não sou uma pessoa, eu sou um caco. Um caco de uma pessoa.

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