sábado, 2 de julho de 2011

A Vidraça

  Pela grande janela de vidro da sala onde lecionavam-me aula de canto eu podia, vez ou outra, conferir a paisagem: folhas caindo de suas árvores, pés caminhando por sob estas folhas e carros que iam e vinham. O Méier é um bairro bonito, foi assim que sempre eu o vi, e gosto de poder apreciá-lo uma vez por semana, todas as quintas-feiras. Foi num desses desvios para o exterior que eu pude ver um casal jovem e repleto de vida, eles estavam sentados em um muro baixo, bem perto da sala onde eu estava, eles estavam ali no Méier, aquele bairro bonito, mas era como se não existisse nada ao redor deles; nem pessoas, nem sons, nem mesmo os carros que iam e vinham. Para um, unicamente o outro existia naquele momento, e enchiam-se de carícias e sorrisos, eles eram felizes ao lado de quem amavam. E, de repente a aula de canto não existia mais, nem o vidro que me separava da rua, nem mesmo o mundo.. eu estava parada em um lugar completamente vazio, havia um holofote apontado para o casal a minha frente, eu estava no escuro. Eu os observava silenciosamente, e deles tinha inveja.. dessa vez não se tratava de uma inveja amargurada, mas de uma tristeza latente e serena, a tristeza de não ter alguém que me olhasse com aquele mesmo brilho no olhar e de o canto dos pássaros soar tão melancólico aos meus ouvidos. Eu sei que o canto dos pássaros era diferente para eles...

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