quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Até as prostitutas choram [próximo conto]


Então, após mais uma noite de espetáculo, Jolie tirou sua pesada maquiagem com lenços umedecidos. À medida que o batom vermelho, a sombra escura, os cílios falsos gigantescos e o pó rosa exagerado das maçãs ia sendo retirado, era como se toda a ousadia, lascívia e indecorosidade fosse sendo arrancado dela. Não era mais Jolie, a dançarina de trajes curtos e olhares libidinosos, que fazia a alegria dos homens todas as noites na boate, era apenas Ana Beatriz; sem máscaras, sem fantasias. Uma mulher de semblante triste, olhar vazio fixo no nada e nenhuma esperança no coração, repousa uma lágrima acanhada em seu olho esquerdo; de mágoa ou de desespero? A verdade era que por trás daquela mulher ardente, sexy e tomada de exageros e frases feitas havia uma mulher tão doce a chorar pela vida, pelos seus anos perdidos, pelo futuro de escuridão. Mesmo após vários banhos, aquela imundice permaneceria impregnada em seu corpo, e ela se sentia suja, eternamente suja, tal como um rato a rondar os esgotos. Nas noites de boemia e farra, ninguém poderia notar a tristeza nos olhos maquiados, as súplicas silenciosas por trás das palavras obscenas e a dor que aquele corpo desnudo carregava na alma. Mesmo nos esgotos da humanidade, até as prostitutas choram...

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